- Sendo, poeta, coisa que me atreva,
Chamava aqueles dois que além se avistam
Leves parece como o ar que os leva.
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Chama-os, que podes; vê quanto eles distam
E falando-lhes tu de um modo terno
Virão logo que os ventos não resistam.
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Lançando-os perto os furacões do inferno;
- Falai-me, (brado) oh almas desgraçadas,
Se não se vos impôs silêncio eterno.
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Duas pombas que o amor sustem ligadas
Não batem mais iguais em voo tão certo
Para o seu ninho as asas compassadas;
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Não voam mais sutis em céu aberto,
Que eles da turma onde andava Dido
Desceram a falar-me de mais perto;
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- Ah, benigno mortal, mortal querido!
Que através desta impura tempestade,
Visita o crime... coração condoído!
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Se fosse nossa amiga a Divindade
Pedira-lhe que em prêmio a glória santa
Desse a quem tem de nós tanta piedade!
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Nós te diremos o que que ouvir te encanta;
Nós te ouviremos o que a dor te inspira
Enquanto o vento ao ar não nos levanta.
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A terra onde nasci, por quem suspira
Inda a minha alma, junto ao mar se estende
Nas praias onde o pó descansa e expira.
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Em peito juvenil fácil acende
Amor a formosura..., mas, que digo?
Se o que Paulo me faz inda me ofende,
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De nosso amigo, amor nos faz amigo;
E amiga tal me fez de quem me abraça,
Que ainda como vês anda comigo.
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Um dia, assim unidos, nos trespassa
Ferro de ímpio caim... mão fratricida...
E na garganta a voz se lhe embaraça.
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E eu inclinando a face humedecida
Largo tempo cismei."Que te amargura?
Diz-me o Poeta em voz estremecida.
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- Lindos sonhos de pérfida ternura!
Que inefável amor, que íntimo encanto
Se lhes não desfaz todo em desventura!
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Ah! dize-me Francisca! se este pranto
(pudesse ele adoçar-vos o martírio)
Nasce d'afeto puro, íntimo e santo;
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E como foi? em súbito delírio...
Que amor vos suscitou no peito amante
Desejos que ignora um casto lírio?
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- S há desgosto maior, mais penetrante
Que contar na desgraça a vida antiga,
Diga o teu guia, que não está distante.
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Mas, pois da história triste que nos liga
Te é grato não ter dúvida nenhuma,
Que pode haver que eu saiba e te não diga?
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Liamos as passagens de uma em uma
Do amor de Lancelloto namorado,
Ambos sozinhos sem suspeita alguma.
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E já mais de uma vez tinha encontrado
Meus olhos nos de Paulo; e a cor perdido,
Sem chegarmos ao ponto desgraçado.
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Alcança o amane o beijo apetecido;
Colhe-o; e nisto Paulo, ansiado e doido,
Paulo, que sempre a mim trarei unido,
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Beija-me a boca, trêmulo de modo
Que nos caiu das mãos no chão o escrito;
E nós lemos mais no dia todo.
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Põe-se a chorar do que me havia dito;
E ele gemia tanto, que eu absorto
Pálido, horrorizado, incerto, aflito,
Caí, tal como cai um corpo morto.
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